sexta-feira, 11 de julho de 2014

manifesto: eu quero menos

Eu não quero a vida que querem pra mim.

Não quero o sucesso, a realização, a riqueza e o prazer sem limites que me oferecem os anúncios, os livros de autoajuda, os consultores de carreira, os filmes e até algumas igrejas.

Eu não quero ser o número 1, nem o número 2, nem o número 10 mil — não quero ser um número. Não quero ser melhor que o colega de trabalho que senta ao meu lado. Não quero chegar ao topo; deve ser muito triste e solitário lá, já que “só há lugar para os melhores”. Não quero estar entre os melhores — não entre os que são considerados melhores pelos analistas de RH.

 Não quero ver o Outro como um rival por um lugar ao sol; quero antes convidá-lo a plantar uma árvore e aproveitar a sombra comigo. Quero a solidariedade como visão de mundo e postura frente à vida.

Quero que o meu trabalho ajude a tornar o mundo um lugar melhor, mas quero, sobretudo, que o meu trabalho seja apenas um trabalho. Quero que minha vida seja mais do que metas, reuniões e prazos criados para dar mais dinheiro a pessoas que já têm dinheiro demais.

Também não quero que o meu trabalho me enriqueça. Quero é ter uma vida digna e descobri que não preciso fazer horas extras nem ser promovido para isso. Pelo contrário. Eu não quero mais; eu quero menos.

Não quero o carro mais possante, a roupa da marca mais famosa, o maior apartamento no bairro mais caro. Não quero comprar a felicidade na forma de mil coisas que não preciso ter — quero é buscar a harmonia e, eventualmente, encontrá-la.

Quero, mesmo vivendo na cidade, recuperar a conexão perdida com o tempo ancestral, com os ciclos da vida e com os humores da Mãe Terra. Uma vida em que o relógio seja menos importante que os momentos vividos é o que almejo.

Talvez não consiga tudo que quero — mas tudo bem, não jogo pelas regras do sistema e minha vida é mais que uma checklist. Querer esse outro caminho e caminhar por ele já é chegar lá.